terça-feira, 18 de outubro de 2011

O primeiro mochilão - Parte I

Sexta-feira, 06h. Toca o despertador. Encontro na parada de ônibus 7h, rumo à Part Dieu. 08h06min, trem para Annecy pontualíssimo. Aproveitando as passagens baratas (12 euros Lyon-Genebra e 8 euros Lyon-Annecy), eu e a Bia, uma paulista aqui da galera de Lyon, resolvemos desbravar a França suíça e a Suíça francesa. Encontraríamos o Rafa em Genebra à noite e o resto do pessoal iria para lá no sábado de manhã.
Uma pequena cidade quase na fronteira com a Suíça, Annecy lembra um pouco Gramado, com o lago, as pracinhas, ruas com várias boutiques e o autêntico fondue francês. Chegamos com um tempo bem fechado, daqueles de estragar o dia. Nada disso. Com uma mochila na frente e outra atrás, aller marcher. Mesmo porquê com o passar das horas o tempo foi abrindo e até sol deu!
Coisa de cidade pequena: estação de trem sem armários. Afinal, o que são 10kg nas costas e 2kg no peito durante um dia inteiro? Vida de estudante intercambista na Europa! Parada inicial pra tomar um café da manhã, com um ótimo croque poulet e um feuillé de pommes. Barriga cheia, andiamo! Office de Tourisme para pegar as informações, e pernas pra que te quero. O lago de Annecy é enorme, e muito bonito. Um cassino à beira do mesmo lembra os filmes do 007. Nessa parte mais nova da cidade, muitos prédios com apartamentos enormes e envidraçados de frente para o lago causam uma ligeira inveja.



Como toda cidade francesa, Annecy é bem antiga, e o centro tem ruas que parecem ter parado no tempo. O Palais de l’île, nas fotos aquela construção no meio do rio, foi utilizado por séculos como prisão, até a II Guerra Mundial, quando abrigou soldados nazistas após a libertação da cidade em 1944. Boucheries e pâtisseries de dar água na boca, com produtos locais que dão um toque a mais no passeio.
Depois de muito caminhar e conhecer diferentes pontos da cidade, fome. Embora a vida de estudante preze pela contenção de despesas, em certas ocasiões existe praticamente uma obrigação de gastar um pouco mais, para mangiare bene provando a especialidade da cidade visitada. Assim sendo, fondue! Uma panela esmaltada com três tipos de queijo derretido e pedaços de bacon, acompanhados daquele pão com casquinha crocante e miolo bem macio que só quem já comeu pão na França sabe como é. Sem ofensa ao nosso querido cacetinho, mas se há algo que os franceses sabem fazer muito bem é pão, queijo e vinho! Esse último, aliás, era um tinto Côtes du Rhône (já virou tradição entre a galera, bom e barato!) e foi a companhia ideal pra panelinha básica. Solange Bressan, prometo perder todos esses quilos na volta ao Brasil, mas agora o negócio é curtir la vie en rose! Pra terminar, compramos um merengão (ótimo!) de café e amêndoas por 1,20, que deu para os dois comerem! 

Após o baita almoço, muita caminhada com os quilinhos básicos nas costas, pra compensar os da barriga. Que alegria chegar na frente do Château (no alto da cidade) e se lembrar que a mochila mais pesada ficou no restaurante lá embaixo! Bem que achei estranho na subida a Bia estar toda esbaforida e o bonito aqui achando tranqüilo pra subir! Citando a famiglia: se liga, bico de luz! Mochila recuperada, passeio rápido pelo Château, fotos da vista e o fim da tarde que se aproximava. E lá se foram os dois burros de carga que, pra dar graça, resolveram subir uns 300 degraus até a igreja. Chegar lá em cima foi praticamente a cena do Rocky.



Entre fotos e papos cabeças sobre religião, atravessar a cidade até a Gare (estação) pra pegar o ônibus para Genebra. Tudo muito perto! Em cerca de 1h30min chegaríamos na Suíça. E claro que, pra finalizar o dia com chave de ouro, este que vos fala confundiu os horários das passagens (ônibus Annecy-Genebra  saía às 19:05; trem Genebra-Lyon na segunda saía às 19:28. Claro que eu acabei trocando os horários):

Bia: João, vamos que já são 5 pras 7!
João: Relaaaxa Bia, temos meia hora ainda!
Chegando na Gare, 19h...
João: Que estranho o ônibus está marcado para 19:05, acho que é o horário de embarque.

Não preciso dizer que daí vimos que faltavam apenas 5 minutos e aquela corridinha básica que deu uma moída final nas pernas. Uma vez dentro do ônibus, o Rafa avisa que pegou o trem errado e chegaria em Genebra 1h mais tarde. Apesar dos pesares, ótimo dia e rumo à Suíça!

domingo, 9 de outubro de 2011

Mansão Roth (MTV Cribz live from Lyon)

Atendendo a insistentes pedidos (ok, não tão insistentes assim) resolvi fazer um post para mostrar o meu home sweet home en France. Aqui as universidades não tem alojamentos próprios, como é nos EUA. Na França, existe um órgão do governo chamado “Centre National des Oeuvres Universitaires et Scolaires - CNOUS”, dividido em centros regionais que administram as residências universitárias. Todos os estudantes de todas as universidades da cidade (Lyon 1 La Doua, Lumière Lyon 2, Jean Moulin Lyon 3, Université Catholique de Lyon, Institut des Études Politiques etc.) podem pedir um alojamento ao CROUS (divisão regional do CNOUS). Existem diferentes tipos de quartos, com diferentes tipos de preços, indo dos mais simples, com banheiro e cozinha compartilhados, até os mais completos, os studios, com tudo dentro do quarto. Fui colocado em uma chambre rehabilitée, última categoria de quartos antes dos studios, com “banheiro” dentro do quarto e cozinha compartilhada.
A residência se chama André Allix, um complexo de 9 prédios que quase parece uma mini-cidade. Ocupa uma quadra inteira do bairro, e foi construído sobre o antigo Fort St. Irenée, outrora ponto estratégico de defesa da cidade. Na década de 1920, tornou-se o Insituto Franco-Chinês até o fim da década de 1940, quando tornou-se residência universitária. O lugar é realmente muito bonito, com resquícios do forte misturado a alterações do Institut Franco-Chinois e adaptações naturais da evolução dos tempos. Cheio de árvores, e morros também (esses não precisava ter!). Com aproximadamente 1.000 pessoas vivendo aqui a cada semestre, haja infra-estrutura. Temos um Resto U (restaurante universitário também administrado pelo CROUS, há vários pela cidade) academia, lavanderias, espaços pra reunir a galera (tipo salões de festa). Obviamente, como estamos na França, cada item oferecido deve ser pago à parte.
A residência fica num dos pontos mais altos de Lyon, no bairro de St. Just, seguro e muito agradável, com mercados, padaria, farmácia e até um McDonald’s do outro lado da rua. Sem esquecer da épicerie (para os leigos, um mercadinho =) ao lado da residência, que oferece boas frutas, e vinhos franceses baratíssimos – alguns chegam a custar 2,50 euros a garrafa - que quebram o galho na hora de beber sem gastar muito.

Entrada da Residência, antigo Institut Franco-Chinois


Alors, à Mansão Roth. Mais uma vez, olhar o lado positivo sempre. O prédio é novo, foi reformado em 2010, logo, móveis, calefação e banheiro novos, e o espaço do quarto, embora pequeno, é muito bem aproveitado. Engraçado como não são só os brasileiros que economizam em algumas coisas mais essenciais e investem em outras nem tanto. Por exemplo, cabides não existem no quarto, mas a persiana é elétrica! Vai entender...
O “banheiro” é na verdade o que eles chamam aqui de cabine tri-fonction, um banheiro compacto que integra vaso sanitário, pia e chuveiro, tipo avião. Meio apertado, mas com o passar do tempo me acostumei. Mesmo porque temos amigos nos prédios em que é tudo compartilhado, e aí é que vemos como é bom, por menor que seja, ter o banheiro privativo. E o chuveiro é bom. A cozinha comum (uma por andar, com fogões, pia e microondas) é ótima pra fazer novas amizades, conhecer os vizinhos e marcar festas. Boa também pra chamar a galera pra comer junto e daí um cozinha, outro lava a louça e os folgados – sempre tem né – só comem! Tudo bem, o revezamento resolve o problema. Além disso, é muito legal ter como vizinhos gente do mundo inteiro: França, Inglaterra, Costa do Marfim, Espanha, China, e claro, Brasil! Impressionante como tem brasileiro em toda a França!
Bem-vindos ao quarto 423 do Bloco L. Como cheguei antes da maioria do pessoal, pude escolher o quarto. Assim sendo, peguei o último do último andar, pra não ter ninguém sapateando em cima e o cheiro de comida que tem nos quartos perto da cozinha. Todo mundo paga seus pecados, sem elevador, quatro andares de escada todo santo dia. Que alegria chegar de viagem, cansado e com aquela malinha básica carregada... Sem problemas, porque a vista compensa, a melhor de toda a residência! Mesmo a galera que está instalada nos studios fala da vista da minha janela. As fotos explicam melhor. Nos dias limpos, além de ver toda Lyon, é possível ver o Mont Blanc! Ótimo pra começar o dia, o nascer do sol já dá um up, mesmo nos dias frios. Nesse prédio, a internet é por cabo, enquanto nos outros é wi-fi. Aliás, o wi-fi merece um comentário a parte! Diferente do mundo inteiro, em que se diz uái fái, os orgulhosos franceses adaptam praticamente todas as palavras estrangeiras, e assim, aqui só existe o uífí. Tão feio de falar! Mais, ça va, c’est la culture française! Conexão so far so good, Skype funciona muito bem e dá pra fazer tudo o que preciso na internet. A 6 euros por mês, tá ótimo!
 





Acostumado já com o dia a dia, às vezes dá saudade de uma cama mais larga, na qual os lençóis apareciam trocados toda sexta-feira, como num passe de mágica!  O que dizer então das toalhas de banho que, nos tempos de Brasil, revezavam-se toda quinta-feira. Hoje velhas e cansadas, trocam de lugar a cada 15, 20 dias... Vida de estudante, né!
Casa limpa hoje (também, já tava na hora!), lixo pra fora, chão varrido, banheiro limpo, pó tirado. Novos ares, dê-lhe computador pra programar as próximas viagens e contabilizar a viagem de um dia pra Grenoble, a ser contada no próximo post!

sábado, 1 de outubro de 2011

Paris, Paris!

Decidido de ir à Paris independente de companhia, passagens do TGV compradas e mala pronta para a Cidade Luz. 07:46 da manhã, plataforma de trens da Perrache, vambora. Que desafio chegar em Paris sozinho, apenas com o endereço do hostel. Balcão de informações, mapa, direção do metrô. Depois de 3 linhas, bienvenue au Hostel d’Artagnan. Um hostel enorme, com 8 andares e um complexo de entretenimento que chega a ser engraçado, tinha até fliperama! Quarto bom, dividindo com mais 2 pessoas. No hall de entrada, olhando o mapa, a língua portuguesa se faz presente, e assim conheço Paola e Débora, duas mineiras fazendo um mochilão de dois meses pela Europa. Mais duas na lista de amigos brasileiros na França. Partimos os três em direção à Montparnasse para encontrar meu contato parisiense, madmoiselle Bruna. Rendez-vous na gare, as mineiras para Versailles, eu e Bruna para Saint Michel. Nada como andar na cidade com um “nativo”. Pra começar, caminhada no Jardin de Luxembourg, que lugar! Paris se puxa mesmo... mais uma vez, as fotos explicam melhor do que eu posso descrever. O Panthéon merece uma visita também. Uma construção muito interessante, principalmente por deixar evidente as mudanças de ideologia e donos do poder na história da França, algumas obras e locais antes reservados a peças e figuras religiosas e que hoje abrigam símbolos da república e de liberdade. A visita ao Panthéon vale também pelo entorno do prédio. Ele é cercado por uma parte da Universidade de Paris, frente à Faculté de Droit, tida como uma das melhores da Europa e ao lado da badalada Sorbonne, singelo lar de estudos da Bruna. Coitada, né? Pra fechar, a rua na frente do Panthéon oferece uma vista bem legal com uma parte da Torre Eiffel ao fundo, conforme registrado pela câmera.
Fome. Um almoço bom num restaurante de Saint Michel, regado a um rosé provençal pra dar uma relaxada, e mais caminhadas. Começamos pela Fontaine Saint Michel, que aparece do nada na rua (pelo menos pro turista aqui né), e só parar pra dar uma olhadinha já dá um up no humor e aquela dorzinha nas costas que a mochila traz desaparece.  Atravessamos a Pont des Arts, carregada de cadeados de amor eterno, embora o guia da Free Walk Tour tenha dito “eu já tenho uns 6 cadeados pendurados aí”. Pra quem não sabe, a Pont des Arts é um lugar onde os apaixonados escrevem seus nomes e, às vezes, juras de amor, nos cadeados, prendem-nos na ponte e a ideia é jogar a chave no Sena para que ninguém nunca a encontre e o amor dure pra sempre. Embora tenha muito cadeado ali que já deveria ter sido aberto né... Mais, ça va, c’est l’amour à Paris!
Continuando a Paris Tour, atravessamos o Jardin des Touleries, na frente do Louvre, até a Place de la Concorde, com o Obelisco ao centro, Champs-Élysées à frente e Assembleia Nacional ao lado. Encontramos Guillaume, um amigo gente fina da Bruna, autêntico parisiense que nos acompanha por um tempo. Praticando o francês, on marche. Champs-Élysées. Babas começam a cair no chão. Não, não é pela Louis Vuitton, nem pela Swarovski. Claro que é pela loja da Citroën, da Mercedes, da Peugeot. Como todo mundo que lê esse blog (ou a maioria) me conhece, não preciso explicar o porquê. Pra fechar a avenida com chave de ouro, l’Arc de Triomphe. Muita gente pra subir (nem sabia que podia subir no Arco!), deixamos pra outra hora. Pulo na casa da Bruna e no mercado (boa ação do dia: carregar as compras para alguém) e encontro com as mineiras lá do início do dia, Paola e Débora na Tour Eiffel. Como diz o sábio Monsieur Grandó, diazinho mais ou menos né?
Day 2. Subida na Torre Eiffel pra começar o dia. Filas e filas, enfim o topo. Que vista! Embora muita gente diga que é suficiente subir até o primeiro andar, vale a pena ir até o topo da torre, a vista é incomparável! Para os mais abastados, taças de champagne por 10 euros são oferecidas para contemplar a vista, e a parte de dentro do observatório mostra as distâncias para as principais cidades do mundo, muito legal. Em seguida, almoço meio perdido e muita caminhada. Grand Palais fechado, visita rápida no Petit Palais. Um prédio incrível com um café no jardim interno que parece aquelas cenas de encontro nos filmes do 007. Pont Alexandre III, Champs-Élysées de novo e uma chegada tardia no Musée d’Orsay. Já fechado, nos restou sentar na escada do museu pra dar uma descansada e curtir o fim de tarde ao som de um clarinete que animava a galera. A retornar com os veio. Atravessamos a Pont des Arts até a Notre Dame. Flashbacks de infância com o filme do Corcunda de Notre Dame se intensificam com a missa que era rezada na catedral que, aliás, tem uns aninhos já, em 2013 completa 850 anos! Depois, um Subway pra matar a fome e corrida até o Jardin de Luxembourg, já fechado, pôr do sol no Panteon e uma perdida pelo Odéon nos mostra uma Paris autêntica, com restaurantes chiques e ruas bucólicas, essa sim, a cena mais de filme desde o início! Despedida das meninas no hostel, no dia seguinte seguiram para Bruxelas e dormir alegremente com os pés fora do chão!
Terceiro dia: Museu do Louvre! Dispensa comentários, mesmo porque todo mundo já ouviu falar muito, né. Realmente impressionante e imponente, o museu é enorme, demorei uma meia hora pra me situar. Não que fosse um problema, afinal, brasileiro é o que não falta no Louvre, ouvia português em todos os corredores! Os apartamentos de Napoleão merecem destaque, um luxo absurdo que chega parecer surreal. Depois de horas lá dentro, encontro a Bruna e vamos para o Sacre Coeur. Que lugar! Uma vista show de bola de Paris e uma escada muito animada que torna obrigatório sentar pra comer um(s) crêpe(s) e curtir a música ao vivo com a galera cantando junto curtindo o fim da tarde. Muito bom. Passada rápida no Moulin Rouge e sua vizinhança “diferente”, no mínimo engraçado! Pra terminar o dia, uma ótima janta em l’Odéon com um rosé gelado e muitas risadas, seguido de um cinema com autênticas parisienses, na Champs-Élysées, fecha o finde em Paris com chave de ouro.
Domingo passada rápida na Bastilha antes de pegar o trem de volta pra Lyon e pros estudos. Paris está aprovada. A retornar no final de outubro com mom and dad! Fotos já no álbum: https://picasaweb.google.com/100698702255216447552/Franca20112012?authkey=Gv1sRgCOzGxLqWipz6ugE